A quebra nas relações comerciais entre Portugal e Angola tem razões objetivas que serão ultrapassadas. Angola continua a ser um grande polo de atração. O futuro é visto com otimismo: “Angola vai sair da crise e as empresas de ambos os países retomarão o bom relacionamento que as caracteriza”, diz o responsável máximo da Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Angola, Paulo Varela. A atual “crise” pode mesmo significar “um novo paradigma nas relações comerciais e empresariais bilaterais, ainda mais satisfatórias e profícuas”.
A queda no valor das exportações portuguesas de mercadorias para Angola no primeiro quadrimestre de 2015 tem uma explicação objetiva: a redução do preço do petróleo nos mercados internacionais para cerca de metade do que era no último ano provocou uma quebra abrupta nas receitas de exportação e fiscais de Angola, dada a grande dependência do país desta matéria-prima.
Com receitas em divisas a sofrer uma queda acentuada desde meados de 2014, o Governo angolano optou, ainda em 2014, por adotar um conjunto de medidas de austeridade na expectativa de controlar o défice orçamental, assegurar o bem-estar da população e prosseguir a reabilitação e construção de infraestruturas consideradas indispensáveis para o crescimento do país. Também como consequência da redução das receitas registou-se o atraso nos pagamentos aos fornecedores de mercadorias e serviços, salvaguardando contudo as importações de bens alimentares e produtos de saúde (medicamentos, por exemplo), cujo pagamento é prioritário.
Embora a OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo, de que Angola faz parte, tenha evitado uma redução na oferta petrolífera que, supostamente, faria aumentar os preços do crude, Angola expandiu a sua produção de 1,65 para 1,8 milhões de barris por dia, no início deste ano. Contudo, as receitas continuam aquém do desejado e registado em igual período do ano anterior e, segundo os analistas, o petróleo não deverá voltar aos valores de 2013 e primeiro semestre de 2014, em que rondava os USD 110,00 por barril. Os valores do crude deverão estabilizar, em breve, entre os USD 60,00 e os USD 70,00, sendo certo que as transações em junho já foram realizadas pelo valor de USD 66,25 por barril.
A expetativa é que, no curto a médio prazo, o preço do petróleo suba para os valores avançados pelos analistas (talvez até aos USD 80,00 por barril) e Angola consiga adaptar o seu OGE – Orçamento Geral do Estado e as necessidades de financiamento à conjuntura internacional. Também é claro que o país não pode depender indefinidamente do endividamento interno e externo nem do recurso às reservas internacionais de que dispõe. Assim se explica a opção por acelerar o processo de diversificação da economia angolana, numa tentativa de substituir as importações por produção obtida localmente, reduzir a dependência externa e o gasto em divisas para o exterior.
Motivos para otimismo
Este cenário, apresentado pelo Presidente da Direção da CCIPA – Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Angola, é acompanhado por uma nota de otimismo: “Tão breve Angola reencontre o seu equilíbrio, estamos certos que as relações comerciais entre Portugal e Angola recuperarão os níveis dos últimos três anos, com algumas empresas nacionais a passarem de exportadoras para investidoras locais, o que permitirá, não só ultrapassar a questão dos pagamentos mas também a das quotas de importação dos produtos da cesta básica, refrigerantes, sumos e néctares, águas minerais, cervejas, hortofrutícolas e ovos”.
Paulo Varela vai mais longe e afirma acreditar que a atual “crise” pode significar “um novo paradigma nas relações comerciais e empresariais bilaterais, ainda mais satisfatórias e profícuas”. A CCIPA reitera que esta quebra nas relações comerciais entre Portugal e Angola é meramente conjuntural: “Angola vai sair da crise e as empresas de ambos os países retomarão o bom relacionamento que as caracteriza”.
Até lá, as empresas portuguesas com dificuldades de tesouraria, devido aos atrasos nos pagamentos de Angola, podem contar com o apoio da banca portuguesa. Foram já criados meios e mecanismos para isso, como é o caso da linha de crédito de €500 milhões, protocolada com o Governo português e a ser implementada por alguns bancos em Portugal. As dificuldades na articulação entre os bancos portugueses e angolanos “estão a ser resolvidas”, assegura Paulo Varela.
Outros motivos para manter expetativas positivas prendem-se com o momento positivo das relações bilaterais em termos políticos. Prova disso é a melhoria acentuada na emissão dos vistos de entrada em Angola, a criação do Observatório Empresarial entre os dois países e a realização, no passado dia 23 de junho, em Luanda, do Fórum Empresarial Angola-Portugal “Juntos na Diversificação da Economia”, uma organização conjunta do Ministério da Economia de Angola, da Embaixada de Portugal e da Delegação da AICEP em Luanda, com o apoio de várias instituições, incluindo a CCIPA, onde estiveram presentes mais de 500 participantes.
Os operadores que trabalham no mercado angolano reconhecem os prejuízos mas mantêm a tranquilidade. As palavras dos responsáveis da DB Schenker Transitários são elucidativas: “O impacto negativo esperado na economia angolana em 2015 terá certamente efeitos adversos na própria economia portuguesa. Porém, acreditamos que esta é uma crise cíclica, como outras. Angola, com todas as suas potencialidades, irá com certeza superar tal situação e poderá inclusive tornar-se uma das mais fortes economias africanas. Também as relações privilegiadas – comerciais, económicas, culturais e de empatia – entre portugueses e angolanos que sempre existiram, poderão ser sempre ainda mais reforçadas”.