Vendas de mercadorias ao estrangeiro estão a ter o melhor momento dos últimos seis anos. Mas importações ainda crescem mais e fazem disparar o défice comercial em 31%
As exportações nacionais de bens estão a viver um momento bastante favorável. Os primeiros cinco meses do ano aparecem como os melhores dos últimos seis anos, tendo o valor faturado aumentado 13,3% de janeiro a maio, face a igual período do ano passado, mostram dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) recolhidos pelo DN/Dinheiro Vivo.
Na mesma nota, o INE também dá conta de um forte crescimento das importações (no período janeiro-maio subiram 16,3%, o ritmo mais acentuado em 17 anos), provocando uma degradação de 31% no saldo comercial de mercadorias. Estas contas não integram a balança de serviços, que continua a ter um saldo positivo para Portugal, sobretudo graças ao turismo.
No entanto, na atualização das estatísticas do comércio internacional, ontem conhecida, o INE faz um alerta pouco comum: o Reino Unido continua a ser um parceiro comercial muito importante de Portugal, as vendas para lá estão a crescer, é um grande cliente das exportações, sobretudo nalguns segmentos de alto valor acrescentado e de alta tecnologia, pelo que a concretização da saída do país da União Europeia (o chamado brexit) pode ter um efeito nocivo na economia e nas indústrias nacionais mais viradas para o mercado britânico. E identifica os segmentos mais expostos ao perigo e à incerteza associados ao brexit.
O referendo que deu a vitória ao brexit foi a a 23 de junho de 2016. Há um ano, o INE analisou a importância do mercado, mas hoje apresenta um estudo mais completo.
Basicamente, conclui que os setores de ótica e precisão, máquinas e aparelhos, vestuário, veículos e material de transporte, o setor alimentar e químico são, por esta ordem, os que mais têm progredido no mercado do Reino Unido, tendo lá "posições de relevo". São, por isso, alguns dos que também podem sair mais prejudicados com a alteração de condições decorrente do brexit.
O caso mais evidente é o dos produtos de ótica e precisão, segmento de muito alta tecnologia e grande valor acrescentado. Diz o INE que, "no 1.º trimestre de 2017, o Reino Unido detinha um peso muito superior nas exportações de produtos de ótica e precisão (11,7%) em comparação com o peso do mercado britânico nas exportações totais portuguesas (6,7%)".
Portanto, as empresas portuguesas que atuam neste mercado estavam a fazê-lo com sucesso. Neste e noutros, o que é visível pela importância cimeira do Reino Unido em alguns segmentos específicos.
Por exemplo, na venda de contadores, indicadores e velocidade, tacómetros e estroboscópios (uma vez mais, produtos de gama alta), o Reino Unido aparece como maior cliente de Portugal, comprando 26,6% da produção. Na fibra ótica, fica com 23,2% da exportação nacional. Nos aparelhos de sinalização acústica ou visual (semáforos, por exemplo), o mercado britânico é crucial. Compra 70% do que Portugal vende para fora. No ramo dos aparelhos de radiodeteção e radionavegação, domina e fica com 55% das vendas portuguesas.
O INE avisa que "um acesso diferenciado do Reino Unido ao Mercado Único Europeu, com o eventual estabelecimento de tarifas alfandegárias nas transações de bens entre o Reino Unido e a UE, a desvalorização da libra face ao euro, o clima de incerteza, assim como a possível contração da economia e do consumo britânico, poderão afetar as exportações portuguesas".
E recorda que "o Reino Unido, tradicionalmente um dos principais destinos para os bens nacionais, manteve-se como o 4.º principal mercado em 2016, com um peso de 7%. As exportações para este mercado totalizaram 3,5 mil milhões de euros, correspondendo a um aumento de 5,5% face ao ano anterior".
notícia extraída na integra de www.dn.pt